CORRIDAS – Contos de
Santarém – 35.
Eu
tinha acabado de fazer 40 anos, e havia prometido a Helena que iria me
comportar um pouco mais na minha apressada maneira de ser. - Sempre fui afobado
não gostando nem um pouco de andar devagar. Na minha infância andei de Kart,
assim como dei a meus filhos um mini-buggy motorizado, para corridas na terra,
tão logo aprenderam a dirigir (7 anos). - Na adolescência fui saltar de para-quedas,
e aprendí a pilotar aviões com 16 anos, tendo escapada varias vezes a tarde da
escola, para dar uma volta pelos céus. - Com 18 anos, competia nas corridas que
faziam em Ribeirão
Preto , somente tendo parado quando morreram dois amigos em um
acidente bem a minha frente na reta de 45 km da estrada de Araraquara, onde a moçada
fazia os pegas. – Com 40 anos, já estava me achando um matusalém, pronto para
aposentar, quando o Caçamba, mecânico das minhas motos, (eu tinha uma 125cc,
que comprei para ver se a Helena aprendia a andar, a 450cc, que até hoje é
minha predileta, e a 750cc, todas Honda), falou-me quando fui pegar a 450cc. que
tinha mandado regular, que o pessoal em Santarém, estava organizando um
“Festival de Arrancadas”, na Avenida Cuiabá, no perímetro compreendido do Cais
do porto, até a Agencia do Banco do Brasil, para motos 125cc., 450cc, e força
livre, de 750cc para frente. – Gozando-me, perguntou se eu não queria
participar. - Disse que estava preparando uma 450cc para correr, colocando
coroa e pinhão especiais, e tendo rebaixado o cabeçote da mesma, e que ninguém
lhe tirava a taça. – Escondido da Helena, e do Caçamba, fiz minha inscrição. –
A minha “Blue450cc.-Custom”, era toda normal, sem nenhuma modificação, mas
estava na melhor fase de seu motor, andando como nunca. - Escondido do Caçamba,
troquei o óleo, coloquei velas novas, pneus novos de perfil baixo, próprios
para velocidade, apertei o cabo do acelerador e regulei a embreagem, deixando-a
bem baixa, ...e esperei o dia da corrida. – A organização do evento fixou como
regra que arrancariam duas motos de cada vez, uma em cada pista da Cuiabá, para
que não ocorressem acidentes, no sentido Cais do porto, até a Agencia do Banco
do Brasil. - Pela maior das coincidências, o Caçamba com sua moto envenenada
caíu comigo. – Pensei: - Pronto, quem manda, eu velho metido a besta, correr
com a molecada, este danado vai me dar a maior surra, pois com a moto dele
mexida do jeito que está com quase 550cc, e a minha normal, não vai ser páreo
para ele. Mas tudo pela diversão. – Como não tinha contado para Helena que iria
correr, senão ela me matava antes, disse que tinha que resolver algumas coisas
da loja, e falei que ela levasse os meninos para verem a corrida, pois todo
mundo estaria lá. Eu iria mais tarde, ela sem nada desconfiar aprontou-os e
foram para a avenida. - No hora da corrida, saíram primeiro as 125cc, em 4
baterias, sendo que as 450cc., teriam somente uma bateria, - Eu e o Caçamba. –
Coloquei minha velha e surrada jaqueta de couro, botas, luvas, o capacete, e
sendo chamado nossos numeros, fomos para a linha de largada, eu pela pista da
direita, ele na esquerda. - Obs: - Uma 450cc quando arranca forte, se não tiver
cuidado, você fica para trás, e dependendo do asfalto, ela pode chicotear,
derrapando e empinando, deixando o piloto no chão. – Pensando nisso, prontos,
luzes acesas, pisca ligado, antes de ser dado o sinal de largada, abrí meio
acelerador, e soltei o desembreio até a moto querer começar a andar, segurei-a
neste ponto, travada, coloquei o corpo para a frente, acelerei o resto, e dada
a largada, soltei todo o desembreio de uma vez, com o acelerador no toco. –
Como se tivesse levado um choque, a “blue 450” agarrou no asfalto, afundou os
amortecedores traseiros, levantou a frente, e arrancou sem derrapar um
milésimo, deixando a primeira marcha bater em 12 mil giros, com o Caçamba
ficando lá para trás. - Quando soltei a segunda marcha, ela aliviada, levantou
suavemente a dianteira, e esticou de vez com a pista a sua frente. - Passei
para a terceira com ela a 140km, a quarta a 170, e a quinta pulou para 190km,
tendo cruzado a linha de chegada a mais de 60m a frente do Caçamba, com sua
moto envenenada. - Para frear tiver que levantar o corpo todo, reduzindo
rapidamente as marchas, pois o final da pista era curto e chegou rápido. - Minha
“Blue”, com seus 15 anos de vida, não decepcionara, mostrou que ainda tinha
muito pneu para queimar. - Tínhamos feito de “0 a 100” , em 6 segundos, nada mau
para um velho de 40 e uma moto de 15 anos. - No retorno, sem capacete, abanei a
mão para Helena mandando-lhe um beijo, e aos meus filhos, que estavam com os
amigos em cima de uma carreta na lateral da pista, e que não sabiam que eu ia
correr (não contei para ninguém), - O Patão, velho amigo, morrendo de dar risada
gozando a surra que o Caçamba levara, e Serginho gritando para sua mãe: - Eu
não disse que era o papai, eu não disse!!!,... só ele anda com os faróis acesos
de dia. - Helena não sabia se ficava feliz, ou se me matava de vez, achando
definitivamente que eu não tinha jeito mesmo. - Como ela sempre diz, o que me faltou
foi é “TEGRETOL” quando pequeno, remédio para hiperativos quando nascem
prematuros. – Mas aqueles 10 segundos, em 400 metros , foram talvez, um dos mais gostosos e intensos
de minha vida, onde eu e a “450 BLUE”, nos tornamos uma coisa só, Adrenalina
pura, em ebulição, com o tempo passando rápido pela viseira do capacete. - Como
se o mundo tivesse parado naquele instante da arrancada, quando em um milésimo
de segundo, olhei para o lado, e vi o Caçamba ficando para trás, e a pista
afunilando na frente, com as coisas nas laterais se tornando apenas um borrão
contínuo e indefinido. – “Existem
momentos que valem uma vida, assim como existem vidas que não valem um momento”.
– Bons tempos que a memória nos lembra e guarda ! - Mas a Helena, minha querida e paciente
Helena, ainda quer me matar, toda vez que acelero um pouco mais. – Continuo
escapando, quando ela não olha, acelero!
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SINTO VERGONHA DE MIM
! (Rui Barbosa).
O poema de Rui Barbosa, transcrito a seguir, é de
uma atualidade impressionante. Poderia ter sido escrito hoje sem
mudar uma palavra. A propósito dos inúmeros escândalos envolvendo nossos
governantes – “Sinto vergonha de mim, por
ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo
já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. - Sinto vergonha de
mim, por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos,simples e
abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez
no julgamento da verdade, a negligência com a família,
célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o "eu"
feliz a qualquer custo, buscando a tal "felicidade" em caminhos
eivados de desrespeito para com o seu próximo. - Tenho vergonha de
mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas
ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para
justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga
posição de sempre "contestar", voltar atrás e mudar o futuro. -
Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer...- Tenho vergonha
da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu
cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir
meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou
enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. - Ao lado
da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro! - "De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto
ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da
virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto". - Rui Barbosa
- 1849/1923 (Um brasileiro como poucos).
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IGREJAS!
A
quantidade, e diversidade de igrejas que vemos hoje nas grandes cidades, e até
na nossa, nos deixa perplexos, não pela fé de nosso cansado povo, mas pela
falta de respeito de muitas pseudo religiões, que só visam cobrar daquele que
pouco tem, seu óbulo, seu dinheiro, fazendo da credulidade alheia, profissão e
embuste. – Deve haver alguma Lei que proíba isto. “Mira”, meu amigo massagista,
me deu uma idéia do que fazem, quando disse que após a morte de seu pai, sua
mãe deu todas as cinco casinhas que possuíam, para uma delas e seus pastores,
que diziam que os devotos tem que se desfazer de seus bens, se querem encontrar
o reino dos Céus. – Isto é crime, tem de ser passível de cadeia. - Abusar dos
mais humildes, tirar-lhes o pouco que tem, é vergonhoso demais, ainda fazendo
isso em nome de Deus !!!
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BÊBADO I. (A PROPÓSITO DESTAS “IGREJAS”)
-
No batizado o “Pastor” afunda a cabeça do fiel dentro de um tonel cheio d'água
e pergunta:
- Você viu Jesus? - Sim! responde o fiel. - Aleluia, irmãos! gritam todos. Chega o próximo.
- Você viu Jesus? - Sim! - Aleluia, irmãos! - O próximo da fila, caindo de bêbado, é um sujeito que vendo a turma na fila, também entrou. - O “Pastor” afunda a cabeça dele dentro do tonel e pergunta: - Você viu Jesus? - Não, senhor! O “Pastor” afunda novamente a cabeça dele. - Você viu Jesus? - Não, senhor! - Irritado, o “Pastor” repete o ritual. - Você viu Jesus? - E o bêbado: - Tem certeza que ele caiu aí dentro ???
- Você viu Jesus? - Sim! responde o fiel. - Aleluia, irmãos! gritam todos. Chega o próximo.
- Você viu Jesus? - Sim! - Aleluia, irmãos! - O próximo da fila, caindo de bêbado, é um sujeito que vendo a turma na fila, também entrou. - O “Pastor” afunda a cabeça dele dentro do tonel e pergunta: - Você viu Jesus? - Não, senhor! O “Pastor” afunda novamente a cabeça dele. - Você viu Jesus? - Não, senhor! - Irritado, o “Pastor” repete o ritual. - Você viu Jesus? - E o bêbado: - Tem certeza que ele caiu aí dentro ???
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