O GARIMPEIRO – Contos de
Santarém 33
Ele
tinha faro para ouro, sempre encontrava o metal dourado, era como se fossem
amantes em um antigo caso de amor, um sempre encontrava o outro. – Porém..., há
algum tempo, a sorte já não lhe sorria deixando-o com muitas dívidas, e
problemas com sua equipe. – Precisava urgentemente achar uma saída. Contou-nos
sua história e preocupações, era um velho cliente, de dezenas de anos, que já
nos tinha dado muito lucro, e agora precisa de crédito e mantimentos para se
embrenhar por alguns meses em uma nova área que havia descoberto, pelos lados
de Marabá. – O velho, quando a batata lhe assava nas mãos, jogava em meu colo,
e assim foi mais uma vez, quem deveria decidir se dava o crédito ao velho
garimpeiro seria eu. – E pensando na “chama” que o mesmo tinha com o ouro, e
lembrando que já nos dera muito retorno, investi no homem, dei-lhe o crédito
que necessitava, mas já sabendo de antemão que a responsabilidade era toda
minha. – Se desse certo, ganhavamos, se desse errado, eu ia ouvir conversa por
um bom tempo, o velho comerciante nas duas, saía ganhando sempre. – Eu ainda ia
aprender a ganhar uma dele, era questão de tempo. Enchemos o caminhão de
mantimentos, e lá se foi o velho garimpeiro, acompanhado de toda minha reza.
Passaram-se seis meses, quando estoura nos jornais de todo o País, que havia
sido encontrado em Marabá, o maior veio de ouro que já se tivera notícia no
mundo, e na primeira entrevista em cadeia nacional, lá estava o velho
garimpeiro, dono da maior jazida de Marabá. Encontrara Será Pelada, como sempre
o ouro o achara novamente, para minha felicidade, pois escapara da falação do
velho nos meus ouvidos. – Quando o velho garimpeiro voltou para Santarém, chegou
em avião próprio, cercado de belas mulheres, com todo mundo a bajulá-lo. Na
tardinha chegou em nosso armazém, abraçou-nos, disse que fôramos os únicos que
havíamos confiado nele, abriu uma bolsa Sansonite repleta de pedras douradas, e
mandou que retirássemos o que quiséssemos. – Peguei uma pedra, o Velho pegou
outra, e disse a ele que guardasse a maleta ao que o mesmo riu dizendo: - Tem
muitas mais de onde veio essa. - Essa é de vocês, como pagamento pela amizade e
confiança que depositaram em mim. – O velho mandou que guardasse a maleta no
cofre dizendo a ele que se precisasse estaria lá. – E nosso amigo foi para o
Mascote, mandou fechar o restaurante, chamou todas as jovens “dadivosas” de
plantão na Mariazinha e cercanias, e fez uma festa de arromba, distribuindo
dinheiro para todo mundo. - Lá pela meia noite, o “Camarão”, o querido garçom
da casa disse que tinha que ir embora, pois os ônibus não circulavam depois. –
O Garimpeiro chamou um chofer de praça, que estava com um reluzente fusquinha,
perguntou-lhe o preço do carro, ofereceu-lhe 20% a mais, pegou a chave e deu
para o Camarão, dizendo-lhe: - Agora você não precisa mais de ônibus, ao que
Camarão em sua simplória lhe disse que não sabia guiar. Foi uma gargalhada
geral, tendo uma das “irmãzinhas” presentes dito que sabia, e levava Camarão
para casa quando fosse. A bebida e todo
o estoque de champanha do Mascote se acabaram, com todos no maior porre que
Santarém já viu, e olhe que a turma bebia muito. Passados alguns dias, o velho
amigo veio comigo, e disse-me que queria comprar um carro que não precisasse
mudar a marcha, só “acelerar e brecar”. - Essa história de marcha e cambio, não
dava muito certo com ele, pois sempre se esquecia de desembrear, e não havia
carro que agüentasse. Disse-lhe que existiam carros assim, e que em Belém a
Mesbla tinha alguns. Foi a conta, ligou para o aeroporto, mandou abastecer seu
“Bandeirantes executivo”, e lá fomos para a capital em busca de um carro de “só acelerar e brecar”, sem marcha, um
“Landau” negro. – Chegamos a Mesbla, eu em calça social, camisa de manga
comprida, sapato preto, ele, bermuda, camisa de manga curta aberta no peito,
chinela de couro, bem velha. – Os vendedores quando comecei a olhar um Landau,
correram para cima de mim, ele quieto olhando uma camionete, sem ninguém que o
atendesse. – Quando se chegaram para me atender, disse logo: - O homem do
dinheiro é aquele lá, ele pode comprar a Mesbla inteira, quero que o atendam
muito bem – CORRAM. – E todos foram para cima do pequeno maranhense que olhava
desconfiado toda aquela gentileza. – Até uísque apareceu quando o homem falou
que estava com a boca seca, e queria uma dose. Eram as vendedoras falando que
ele era uma gracinha, fofinho, e o homem olhando as duas “feras negras”
estacionadas, maravilhado com tanta beleza.- Sentei-me no carro, liguei-o, e
expliquei a ele como funcionava, - No “P” era “ponto morto”, para andar, era só
colocar no “D”, acelerar devagarzinho que o bicho começava a rodar. Se freasse,
não precisava fazer mais nada, parava na hora. – Pronto negócio fechado,
comprava um, - Não, queria logo os dois, um para ele, outro para a mulher, que
assim, ela nunca ia pegar o dele. Mandou que preparasse os papéis. - Quis
sentar na direção com o carro ligado, e saímos eu e o Gerente para cuidar da
papelada, pagamento a vista, em dinheiro vivo. Ele sentado, acelerando o carro,
e os 200cavalos em baixo do capô, nervosos, faziam o carro todo tremer,
quando... ele engatou o “D”... – Foi quando o mundo se acabou.... – A manada de
200cavalos embaixo do capô levantou a frente do Landau negro que, com as rodas
esterçadas, saiu derrapando os pneus virando-se para o lado da vitrine de
carros usados mirando-os bem no centro, ele como que hipnotizado, segurava o
volante com o pé atolado no acelerador, com os vendedores correndo da frente do
carro que levava moveis, cadeiras vasos, em reta rumo aos carros usados 20 m à
frente. – O impacto foi tremendo, passou pela vidraça, e bateu de frente na
lateral do primeiro carro, amontoando-os, um em cima do outro até encostarem-se
à parede oposta com o Landau fritando pneu no chão como trator juntando terra,
ele ainda com o pé atolado no acelerador. – A Mesbla havia virado um
pandemônio, como se uma guerra houvesse passado por ali. – Não havia nada
inteiro no salão por onde o simpático maranhense passara. - As vendedoras com
os olhos esbugalhados, sem entender nada, o Gerente só faltando se suicidar de
tanto que berrava, e o maranhense saindo calmamente do carro, olha para mim e
diz: - Agora já sei como é que se controla esse animal, me dá o outro que quero
guiar. - A primeira coisa que fiz, foi rir, a segunda foi dizer ao gerente que
não precisava se preocupar, ele pagava todo o estrago, quando me ouvindo,
mandou que seu guarda costas trouxesse a pasta Sansonite, a abrisse, e desse
para o gerente, que quando viu a mala até a boca de dinheiro, entendeu que, não
precisava se preocupar. - Resumindo: quando quis sair no outro carro, disse-lhe
que eu não ia de jeito nenhum, que ele precisava primeiro andar em uma rua
deserta, com alguém que o ensinasse, mas não adiantou, queria domar o animal. –
E lá foi ele com um vendedor dar uma volta em uma pequena rua próxima, enquanto
tentavam colocar ordem no caos que se transformara a Mesbla. – Meia hora
depois, chega ele e o vendedor a pé, haviam batido em um muro na rua deserta, a
200m à frente, o animal fora mais forte que ele, não o conseguira domar. –
Mandou consertar os dois carros, e levou-os para Santarém. - Pagou à vista o
prejuízo e os automóveis, e retornamos para casa, ele todo satisfeito, pois
encontrara o carro de seus sonhos, não precisava mudar de marcha, era só
acelerar e brecar, o problema era domar todos os cavalos embaixo do capô. - Com
o tempo ele aprendeu, e a vida voltou à normalidade, se bem que com ele por
perto...a vida nunca foi normal. – Bons tempos de Santarém de antigamente,
quando os homens de ouro, eram os reis do universo, e não existiam crimes em
nossa terra. – Hoje após gastar tudo que tinha em farras e loucuras, ele
continua por aí, a procura de uma nova Serra Pelada. – Qualquer dia,
apresento-o a vocês!
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